Negros são alvo de mortalidade na Região Metropolitana

Volume de mortes na Região Metropolitana de Brasília passou de 2.716 para 4.683

Maria Luiza Júnior vê índices assustadores na pesquisa

Um estudo preocupante, divulgado ontem (23) pela Companhia de Planejamento do DF (Codeplan), mostra que 70% das mortes entre jovens no Distrito Federal e em 12 municípios do Entorno são de negros, sendo a maioria por homicídio e, destes, 80% causados por arma de fogo. Os dados estão no estudo Jovens Negros e Não Negros – Mortalidade por Causas Externas na Área Metropolitana de Brasília: 2000 a 2012.

A finalidade da pesquisa foi analisar a evolução da mortalidade, considerando as causas externas, particularmente os homicídios e acidentes de transporte terrestre, nas populações negra e não negra, entre 15 e 29 anos de idade. O estudo englobou o DF e 12 municípios goianos: Águas Lindas de Goiás, Alexânia, Cidade Ocidental, Cocalzinho de Goiás, Cristalina, Formosa, Luziânia, Novo Gama, Padre Bernardo, Planaltina de Goiás, Santo Antônio do Descoberto e Valparaíso de Goiás.

A pesquisa apontou que, entre 2000 e 2012, o número de óbitos nos locais estudados aumentou cerca de 41,7%, e passou de 11.288 para 15.991. O volume de mortes na Periferia Metropolitana de Brasília (PMB) passou de 2.716 para 4.683, o que representa um aumento de 72,4%. Todos os dados apontam que os jovens negros morrem mais e correm mais risco de morte por homicídio ou acidente que os não negros. Segundo a Codeplan, no período estudado, o número de óbitos por causas externas de jovens negros foi de 12.367, enquanto entre os não negros foi de 2.270 mortes.

Para o presidente da Codeplan, Júlio Miragaya, esse número chama a atenção para que o governo crie políticas públicas voltadas para a juventude, principalmente para jovens negros. “Temos que aumentar o tempo dos jovens na escola, ofertar a qualificação, criar políticas públicas para dar mais oportunidades para os jovens negros”, avaliou. De acordo com Miragaya, o enfrentamento ineficaz por parte da polícia é outro agravante do problema, pois há um certo preconceito contra o jovem que mora na periferia, principalmente quando ele é negro.

Maria Luiza Júnior, mestre em História Social, participa do Movimento Negro no DF e acha que o estudo revela que a ação da polícia contribui para os homicídios. “É assustador que cerca de 80% dos homicídios sejam por causa de revólver. É muito fácil dizer que um jovem foi atingido por bala perdida, mas bala perdida na cabeça é muito contraditório, porque uma bala na cabeça é um tiro de precisão, que pode ter sido ocasionado por um policial muito bem treinado. Ou seja, ninguém pesquisa de onde vem essas balas, os inquéritos para investigar a morte de algum jovem negro que são abertos, não chegam ao fim”, argumentou.

Segundo ela, outra responsabilidade da polícia é impedir a circulação das drogas. “Como se compete com o prazer que a droga dá, não tem como. Quando o rapaz cresce mais um pouco, a polícia dá um tiro, fala que se enganou, diz que confundiu com bandido, pois a polícia sempre usa esse argumento quando mata um jovem negro trabalhador. O que provoca isso é um racismo institucionalizado, que abrange todas as partes e setores da sociedade. O negro não tem oportunidade de se inserir”, analisou.

Risco de morte

No triênio 2010-2012, o risco de morte na população entre 15 e 29 anos ele foi de 1,64 para cada mil jovens. Entre os municípios da Periferia Metropolitana de Brasília, esse risco foi de 2,44 mortes para cada mil. Luziânia apresentou a maior taxa para a população negra: 4,21 por mil jovens. A maior diferença entre negros e não negros foi observada em Santo Antônio do Descoberto. Lá, a chance de um negro vir a morrer por causas externas é 4,2 vezes maior. Em Águas Lindas de Goiás, o risco de um jovem negro morrer por homicídio é 15,6 vezes maior que para um não negro da mesma idade. Na Cidade Ocidental, as chances são 9,9 vezes maiores, e no Novo Gama, 8,5.
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Por Renata Belsantos

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