Investigação de transporte pirata levanta indícios de outros crimes
Uma investigação da polícia da Cidade Ocidental (GO), na Região Metropolitana do Distrito Federal, que tinha como objetivo o combate ao transporte pirata, acabou revelando indícios da existência de uma organização criminosa que, além de executar o serviço público de forma ilegal, estaria articulando a morte de autoridades. Entre os alvos do grupo, estão um policial civil e uma promotora de justiça.
O portal eve acesso às transcrições telefônicas feitas com autorização judicial. O teor é peça-chave para o processo que tramita no Tribunal de Justiça contra 14 integrantes do grupo que opera de forma clandestina no sistema de transporte. Entre eles, servidores da Superintendência de Trânsito Municipal e até vereadores.
Apuração
O monitoramento telefônico dos suspeitos ocorreu entre os meses de abril e maio do ano passado. De acordo com o relatório policial, um dos diálogos mais comprometedores é datado de 13 de abril de 2013 e teve como alvo o telefone de Hednailton Wagner de Lima, um dos suspeitos de integrar a quadrilha. Ele conversou durante cerca de 12 minutos com um adolescente de 17 anos, identificado como M.S.P, que cumpre pena no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). No diálogo, Wagner estaria oferecendo dinheiro para o menor para executar o policial Alexandre Araújo Carneiro da Silva e a promotora Marizza Maggioli.
Na conversa, o menor pergunta se Wagner conseguiu tirar a van apreendida pela polícia. Wagner diz que não. O adolescente diz que "vão ter que colocar fogo naquele". A ligação fica "incompreensível", descreve o agente que a transcreveu.
Em outro trecho, Wagner pergunta se eles têm coragem. O menor responde em tom de irônia: "A gente taca fogo nele", afirmou o garoto. Wagner completa: "R$ 1 mil por qualquer um". O adolescente responde: "Você é doido, é?", diz.
Adolescente confirma proposta
Quinze dias depois, em depoimento no Centro Integrados de Operações de Segurança (Ciops) da Cidade Ocidental (GO), o garoto teria confirmado que Wagner planejava atentar contra a vida do policial e da promotora. O adolescente explicou que trabalhou algumas vezes como cobrador de van de Wagner.
Em outra gravação, feita no mesmo dia e com duração de dez minutos, o alvo é o telefone de Charles Rodrigues de Arana - que também é apontado como membro da organização criminosa.
Na conversa com um homem não identificado, Charles diz: "Você acredita que seu irmão lá prendeu a van do Guimarães agora?", disse. O homem, então, sugere resolver a questão de forma radical: "Rapaz, vamos mandar matar esse cara, moço”, disse.
Um dia após o depoimento de M.S.P, a Justiça decretou a prisão temporária de Wagner, Charles e outros seis integrantes do grupo de transporte pirata por cinco dias. Na decisão, o juiz André Costa Jucá argumenta que "depois da quebra de sigilo e das comunicações telefônicas dos envolvidos, vieram à baila fortes indícios da prática do crime de ameaça contra a promotora de Justiça Marizza Maggioli".
Objetivo seria frear o trabalho da Justiça
Em outro trecho do documento, o magistrado ressalta que, "nas escutas telefônicas, por diversas vezes, planejavam atentar contra a integridade física da promotora Marizza, responsável pelas investigações e apreensão das vans utilizadas na prática de transporte clandestino e, ainda, atentar contra a vida do agente de polícia Alexandre Araújo Carneiro da Silva, com o nítido objetivo de cessar as investigações e garantir a continuação da prática delituosas."
Ilegalidade
Autor de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar "irregularidades no transporte público de Cidade Ocidental (GO), o vereador Paulo Rogério (PROS) afirma que a ilegalidade só ocorre devido à carência do serviço. "Alguns moradores precisam caminhar três quilômetros para chegar à parada de ônibus mais próxima", ressalta. "Sou contra o transporte pirata”, conclui o vereador
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