A ordem foi ressaltar a beleza dos fios crespos e abrir espaço para que pessoas que sofrem com o racismo pudessem compartilhar vivências
É tempo de empoderar mulheres e homens para assumirem e valorizarem sua estética negra, caracterizada, por exemplo, pelos cabelos. No 1º Encontro Crespo do DF e Entorno, realizado no Eixão Sul durante todo o domingo (29), a ordem foi ressaltar a beleza dos fios crespos e abrir espaço para que pessoas que sofrem com o racismo pudessem compartilhar vivências.
“É importante ocupar o centro de Brasília para reivindicar os nossos direitos. Principalmente em um evento organizado basicamente por mulheres negras, que são quem mais sofre com esse padrão que quer nos embranquecer”, ressalta Janaina Candido, publicitária e uma das organizadoras.
Para Janaina, essa é uma ótima oportunidade para que as negras vejam que não estão sozinhas. “Nós não nos vemos na televisão nem nas capas de revista. Aqui, temos representatividade e fortalecemos nossa resistência”, considera.
O encontro foi inspirado na Marcha do Orgulho Crespo de São Paulo. Neomisia Silvestre, uma das organizadoras do evento paulista, lamentou que questões burocráticas tenham impedido que o formato da ação na capital federal fosse, de fato, uma marcha. “São muitas dificuldades e embargos sempre que tentamos fazer algo. É necessário questionar isso também. Mas levaremos como um aprendizado, e no ano que vem, a marcha de Brasília acontecerá’, promete.
Identidade
Ao todo, cerca de 60 pessoas participaram de atividades como oficina de turbantes, maquiagem e pinturas africanas, além de aula de charme, estilo musical que remete ao R&B. “Talvez essa troca tenha mais valor que a marcha em si”, conclui Neomisia.
Para os participantes, manter o cabelo crespo é também um ato político ao desafiar um padrão de beleza que exclui e diminui a autoestima das pessoas. “Precisamos ter representatividade em todos os lugares. Queremos a aceitação sem diminuição ou objetificação. Que cada negro se sinta lindo da forma como é”, afirma Neomisia.
A servidora pública Sônia Palhares, 54 anos, é militante negra há mais de 20 anos. Para ela, houve avanços, mas a verdadeira igualdade ainda está longe: “A evolução é lenta. É um processo de acúmulo. Mas hoje, pelo menos, nosso movimento tem mais espaço, e conseguimos atingir mais pessoas. Devemos essa visibilidade muito às redes sociais. Não só para divulgar, mas até para captar recursos”.