Expectativa de especialistas é de que o governo de Mauricio Macri possa elevar as compras de manufaturados do Brasil. Estados Unidos também serão um importante parceiro neste cenário
Porto de Los Angeles: Estados Unidos, destino de 13% das exportações brasileiras, serão uma prioridade.
A Argentina deve voltar a ser um importante parceiro comercial do Brasil em 2016. Para especialistas, a eleição de Mauricio Macri para a presidência do país vizinho deve facilitar a liberalização para o comércio e a queda de barreiras protecionistas.
Uma demonstração disso foi que, recentemente, o governo Macri anunciou a eliminação de uma barreira à importação e de impostos às exportações de trigo criados na gestão da ex-presidente da Argentina Cristina Kirchner. Essa medida forçou o Brasil a procurar novos mercados para comercializar o produto básico, um dos principais em sua pauta exportadora.
No ano passado, a balança comercial entre os dois países atingiu US$ 139 bilhões, enquanto em 2013 somou US$ 3,1 bilhões. Em 2015 até novembro, o saldo melhorou (US$ 2,2 bilhões), mas ainda é inferior a iguais períodos de anos anteriores a 2014.
Segundo especialistas, apesar de a Argentina ainda ser o terceiro país para o qual o Brasil mais exporta - em primeiro está a China e em segundo os Estados Unidos -, a nação vizinha deve elevar a importação de manufaturados brasileiros ano que vem - importante para agregar valor à pauta exportadora.
"Pela postura do Macri, que inclusive já visitou o Brasil, pode haver um crescimento das relações comerciais entre os dois países em 2016", afirma Antônio Carlos Alves dos Santos, professor de Economia da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP). Na lista de produtos brasileiros mais vendidos para a Argentina têm destaque os automóveis e peças para veículos, assim como motores, freios e pneus.
Ao mesmo tempo, a tendência de mudança política, tanto na Argentina quanto na Venezuela, onde as eleições parlamentares marcaram o avanço da oposição, pode favorecer o desenvolvimento do Mercosul, com maior abertura para o comércio exterior.
Carlos Alberto Cinquetti, professor de Economia da Universidade Estadual Paulista (Unesp), destaca também que esse movimento na região poderá acelerar o fechamento do acordo de livre-comércio com a União Europeia e a aproximação com outros países sul-americanos, "como o Chile, a Colômbia e o México".
Estados Unidos
Além da Argentina, os Estados Unidos devem ampliar as compras de produtos brasileiros, especialmente manufaturados, no ano que vem, conforme os especialistas.
O impulso pode ajudar a balança comercial a atingir o superávit de US$ 35 bilhões anunciado pelo governo. Os Estados Unidos, destino de quase 13% das exportações brasileiras, "voltou a ser prioridade no cenário de comércio exterior e deve dar segmento aos trabalhos de convergência regulatória com o Brasil no ano que vem", comenta Renata Vargas Amaral, consultora da Barral M Jorge.
A especialista ressalta que o mercado norte-americano é "superimportante por importar produtos de maior valor agregado, os manufaturados brasileiros". Propulsores, reatores e outras máquinas aparecem entre as mercadorias brasileiras mais compradas pelos Estados Unidos.
Os especialistas destacam também a importância do câmbio, além de mudanças em regulação, para incentivar as exportações de manufaturados. "Se a taxa continuar elevada e não oscilar muito, as vendas, principalmente de manufaturados, serão favorecidas", diz Santos.
Em 2015, até a terceira semana de dezembro, o superávit na balança comercial superou os US$ 16 bilhões, depois de déficit de quase US$ 4 bilhões no ano passado.
China e europeus
Já os chineses devem ter mais um ano com desaceleração no crescimento econômico. Assim, "não deve acontecer aumento nas compras de produtos brasileiros" e os preços das commodities "devem continuar em baixa", explica Santos. A soja e o minério de ferro, produtos de maior representação na pauta exportadora do País, tem a China como principal destino.
As exportações para a Europa também não devem trazer grandes novidades no ano que vem. "A retomada do crescimento no continente continua ocorrendo lentamente e não devemos ver aumentos significativos nas vendas para lá", aposta Santos. Entre os principais compradores de produtos brasileiros, aparecem Países Baixos (quarta posição), Alemanha (quinta), Reino Unido (oitavo) e Itália (nono lugar).
O professor também menciona a Índia, sétimo maior importador de mercadorias brasileiras, que "com crescimento econômico bom e expansão da classe média, pode demandar ainda mais produtos". Entretanto, ele pondera que "políticas locais de proteção ao produtor doméstico" podem prejudicar a concorrência externa.
POR Renato Ghelfi