Quilombolas agregam valor à produção com selo de certificação de origem

Selo Quilombos do Brasil beneficia 338 moradores, que já sentem o resultado nas vendas

Dentro da comunidade quilombola Mesquita, na Cidade Ocidental (GO), oito agricultores familiares já sentem a melhoria nas vendas depois de receberem o Selo Quilombos do Brasil. Eles ganharam a certificação do Ministério do Desenvolvimento Agrário, em parceria com a Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), para identificar os produtos com origem de comunidades quilombolas.

Ao todo, foram dadas 23 permissões para a utilização do Selo para comunidades e produtores individuais, aplicado em aproximadamente 212 produtos diferentes, beneficiando 338 moradores remanescentes de quilombos.

Edilson Pereira Dutra, de 58 anos, trabalha há mais de duas décadas com agricultura familiar e planta uma variedade de produtos: alface, cheiro verde, mandioca, banana. Antigamente, ele conta que precisava trabalhar fora para completar a renda, mas as vendas têm melhorado depois que a Associação Renovadora do Quilombo Mesquita o ajudou a conseguir o Selo Quilombos do Brasil.

Segundo Dutra, a certificação já tem sido importante, principalmente nas vendas em feira. "O selo tem ajudado muito a vender na Cidade Ocidental. Tem gente hoje que vem de longe comprar porque sabe que o produto é bom, sem veneno. Tudo por causa do selo."

O vice-presidente da Associação Renovadora do Quilombo Mesquita, João Antônio Pereira, 66 anos, considera o selo uma garantia de produto de primeira qualidade. "Nós recebemos do governo federal um título, que pra nós é como se fosse honra ao mérito, como se fosse uma medalha de corrida. É confirmar o produto de primeira qualidade, sem agrotóxico, tudo natural, da terra mesmo. É muito importante para a nossa comunidade, que vive da agricultura e lavoura."

[O agricultor Melânio de Teixeira Magalhães, ou Melo, como é popularmente conhecido, considera que o principal ganho da certificação é cultural. "Aqui é um lugar histórico para nós. O bisavô do meu avô já morava aqui e foi passando a terra para nós. Nós não vamos destruir a natureza, porque precisamos dela, respeitamos muito."

Aproveitar o reconhecimento étnico para agregar valor é justamente a função do selo, segundo o coordenador-geral de Políticas para Povos e Comunidades Tradicionais do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA), Edmilton Cerqueira.

“Divulgar a origem, atrelando o produto àquela comunidade, contribui primeiro para garantir a identidade étnica daquela comunidade, porque é um produto de agricultura familiar e um produto que tem uma especificidade quilombola. Por outro lado, o selo contribui para agregar valor àquele produto, à medida em que ele está relacionado com uma política nacional.”

O coordenador conta que muitas redes de supermercado já procuram as comunidades para oferecer a produção certificada. Para conseguir o selo, o produtor ou a comunidade deve procurar o MDA com a documentação necessária: o Selo de Identificação da Participação da Agricultura Familiar (SIPAF) e a certificação de comunidade remanescente de quilombola pela Fundação Cultural Palmares, vinculada ao Ministério da Cultura.


Cerqueira afirma que não há limite para o número de certificados que o Ministério pode dar aos produtores. “Hoje nós temos cerca de 2.500 quilombos no Brasil, de acordo com os dados da Fundação Palmares. As comunidades podem ficar despreocupadas, podem enviar as suas solicitações porque não existe limite para a autorização do uso desse selo. Espero que cada vez mais comunidades procurem agregar valor aos seu produtos”, diz.
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Por Renata Belsantos

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