ARTIGO: É hora de reinventar os partidos

Daniel Vilela

Os partidos políticos vivem um momento singular em todo o mundo: sofrem com a perda da relevância junto à população

Embora à primeira vista esse cenário pareça ser mais acentuado no Brasil, diante dos incontáveis escândalos e de uma natural descrença generalizada com a classe política, ele não é exclusividade do nosso País.

O fenômeno da perda de representatividade dos partidos foi descrito de forma muito lúcida pelo cientista político Moisés Naím, ex-diretor executivo do Banco Mundial e autor do livro O Fim do Poder. O pesquisador venezuelano afirma que as legendas estão assistindo à diminuição da sua função primordial de "conectar os desejos e necessidades dos eleitores com as atividades e decisões dos governos". Isto porque, explica o autor, os canais que ligam as pessoas aos governos "são agora muito mais curtos e mais diretos do que antes e surgem cada vez mais atores capazes de intervir nesse processo." As redes sociais, por exemplo, já se provaram um meio excepcional para canalizar desejos e frustrações com a política e os gestores públicos.

Parte deste distanciamento é fruto não somente das mudanças recentes na forma como nos comunicamos com o mundo, mas também do engessamento histórico das estruturas partidárias na maioria dos países, burocráticas e pouco conectadas com as pessoas que estão fora destas agremiações. Neste vácuo, movimentos sociais baseados em bandeiras específicas têm crescido e ocupado espaços que antes eram quase exclusivos das siglas partidárias.

O Podemos, na Espanha, é um dos melhores exemplos da nova forma de organização política do mundo moderno. O embrião surgiu em um movimento popular em 2011, quando o país vivia o ápice de uma crise econômica com forte desemprego. Seguiu-se a isso a descrença nos organismos políticos estabelecidos, o que resultou em revoltas pelo país. O que parecia ser a negação da política terminou com a formação um partido, mas este, oficializado anos depois, carrega em sua gênese a marca do que pretende ser uma mudança de prática. E já conquistou suas primeiras vitórias nas urnas.

A semelhança entre o que a Espanha viveu no início da década e o que o Brasil vive há cerca de três anos salta aos olhos. Mas será que precisamos de um novo partido para compreender os problemas e buscar as soluções? Não creio. O Brasil conta hoje com 35 siglas partidárias e boa parte delas não consegue sequer justificar sua existência como representante de bandeiras ideológicas ou de ações programáticas. Temos, no entanto, algumas legendas estabelecidas e com plenas condições de se renovar. Uma delas é o PMDB, partido que, em Goiás, tenho a honra de presidir desde o dia 5 de fevereiro.

Assumimos o diretório com a missão de modernizar a prática político-partidária e oferecer uma alternativa consistente aos goianos. Eficiência, inovação e transparência formam o tripé do planejamento estratégico que vamos adotar no diretório estadual. Temos uma vantagem com relação às demais siglas pela força histórica e capilaridade que o PMDB preserva em Goiás, confirmada na convenção do último dia 5, que teve como saldo a formação de 146 diretórios municipais e mobilizou 238 delegados de todo o Estado para votarem, além de centenas de militantes. Foi uma demonstração de força democrática e as próprias lideranças históricas compreenderam este novo momento e estimulam hoje a renovação das nossas práticas.

Mas temos que ir além. Adotar mecanismos mais modernos e participativos para se comunicar com o eleitor, tendo a tecnologia como grande aliada. É hora de se reinventar. O PMDB tem que ser um catalizador das insatisfações e, principalmente, de novas propostas junto ao poder público. Para isto, temos de abrir canais de diálogo permanentes para compreendermos melhor as demandas, coletar dados e elaborar, ao lado de notáveis em diversas áreas de atuação, projetos para atender aos desejos colocados. Se não conseguirmos representá-la adequadamente, a sociedade buscará legitimamente novos meios para expressar seus anseios e construir seu futuro.


*Daniel Vilela - Formado em Direito pela Universo, BRASIL, Goiânia, GO, 2003-2009; Pós-Graduação Administração Pública - Cipad ( incompleto ) , Fundação Getúlio Vargas, BRASIL, Brasília, DF, 2012.
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Por Marcela Andrade

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