Crédito consignado não escapa da alta de juros

Em tempos de forte ajuste na economia, o consumidor tem de ficar atento às contas pessoais. Os juros ficaram mais altos, o emprego está mais escasso e o crédito, mais seletivo. Até os empréstimos consignados, modalidade de financiamento com desconto em folha de pagamento, considerada mais em conta, já começa a pesar no bolso. A taxa média cobrada das instituições financeiras, que era de 24,4% ao ano em dezembro de 2013, passou para 26,5% em janeiro passado e pode subir ainda mais, acompanhando a alta da taxa básica de juros (Selic). 

Trabalhadores da iniciativa privada são os que mais têm sentido a elevação dos juros do crédito consignado. De acordo com o Banco Central (BC), a taxa média cobrada dos servidores públicos subiu de 22,3% para 24,6% ao ano e os encargos dos aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) avançaram de 27,3% para 28,4%. Já no caso de empregados do setor privado, a alta foi bem maior, de 29,7% para 35,9%.

A razão dessa disparidade, segundo analistas, está no receio dos bancos com o aumento do desemprego entre os funcionários de empresas privadas. Na semana passada, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que a taxa de desocupação no país subiu para 6,8% no trimestre encerrado em janeiro passado, ante 6,4% um ano antes. Como têm emprego ou rendimento estáveis, servidores públicos e aposentados são os clientes preferidos dos bancos na hora de conceder financiamento com garantia em folha. Não à toa, do saldo dos empréstimos dessa modalidade de crédito, R$ 156,6 bilhões correspondem a operações feitas com servidores públicos, R$ 78,2 bilhões com segurados do INSS, e apenas R$ 19,2 bilhões se referem a empréstimos tomados por trabalhadores do setor privado. 

Cuidados
Apesar dos custos mais elevados, o crédito consignado continua sendo uma alternativa bem mais barata do que as linhas tradicionais de financiamento existentes no mercado. Segundo o BC, o juro médio cobrado de pessoas físicas em janeiro era de 52,6% ao ano. Mas o custo pode ser bem mais alto. Em média, as instituições financeiras cobravam 107,4% no crédito pessoal, 208,7% no cheque especial e inacreditáveis 334% ao ano no rotativo do cartão de crédito.

Como tem maior garantia de receber o valor emprestado, já que as prestações são descontadas automaticamente do salário do tomador, os bancos podem praticar juros menores no crédito consignado. Mesmo assim, diante das incertezas, é preciso redobrar os cuidados. Há instituições que, mesmo nessa modalidade, chegam a cobrar taxas superiores a 100% ao ano, como a Portocred Financeira (veja arte). 

Os especialistas indicam que o cidadão deve evitar todas as formas de endividamento. De acordo com o economista Ricardo Figueiredo, consultor do programa Vida Investe, o melhor é adiar as compras ao máximo e guardar um pouco de dinheiro todo mês para pagar à vista e fugir dos juros embutidos nos parcelamentos. Se estiver inadimplente e o empréstimo for indispensável, é preciso fazer os cálculos, negociar bastante e escolher a instituição financeira que oferece a menor taxa. “O ponto de partida é tratar as contas pessoais como uma empresa lida com sua contabilidade. Sempre equilibrando o ativo e o passivo”, assinalou. Cheque especial e cartão de crédito devem ser utilizados apenas se não houver outro jeito. 

Comportamento
Com a inflação em alta reduzindo o poder de compra das famílias, a ordem é não descuidar das finanças. Fábio Moraes, diretor de Educação Financeira da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), diz que o ideal é colocar as contas na ponta do lápis. Anotar todos os gastos, dos pequenos aos mais caros. Prever as despesas fixas e listar as faturas atrasadas. E trocar dívidas caras, como cartão de crédito e cheque especial, por outras mais baratas. “É fundamental conhecer a situação. Muita gente não faz ideia do tamanho da dívida ou do valor do salário líquido mensal. Esquece que aquela quantia que vem na carteira assinada tem descontos”, destacou.

Moraes ressaltou ainda que quem está endividado precisa mudar o comportamento. Não basta pagar as dívidas. Tem que cortar despesas desnecessárias para equilibrar o orçamento e evitar velhos hábitos que comprometem o salário do mês. “É com as despesas variáveis que o dinheiro acaba saindo pelo ralo. Se a pessoa quer continuar com diversas atividades de lazer, ou encontra uma ocupação acessória que proporcione uma renda extra ou corta supérfluos. O que não se pode é sentar e chorar. Tem que arregaçar as mangas. Chegou a hora de ser criativo, mudar valores e viver de acordo com as possibilidades”, assinalou.

Método prático
O economista Samy Dana, da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-Eaesp), diz ter encontrado uma fórmula prática de equilibrar as finanças. A estratégia se parece com o sistema de pontos usado em dietas, no qual é possível comer de tudo, desde que de forma moderada. Dana lançou, no fim de fevereiro, em parceria com a jornalista Carolina Sandler, o livro Finanças Femininas, pela Benvirá, selo da Editora Saraiva. Os autores ensinam que, de todo o salário, 50% devem ser usados para pagar contas fixas, 30% ao lazer e 20%, poupados para projetos futuros. “O que as pessoas precisam mesmo anotar são os custos fixos, como aluguel, telefone, alimentação, seguro do carro, gasolina, entre outros”, disse. 

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Por Renata Belsantos

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