Para enfrentar a seca, o pecuarista Fábio Brás da Costa, 55 anos, precisou se livrar de parte do rebanho. A intenção é garantir que haja pasto para manter o vigor do gado e, consequentemente, a produção de leite e o lucro nos negócios. Ele não é o único criador do Distrito Federal a tomar essa medida, que se repete no Entorno, como em fazendas nos municípios goianos de Girassol e Cocalzinho. A principal fonte de alimento dos bovinos (há 110 mil cabeças no DF) sofreu com o veranico estendido de janeiro e cresceu, em algumas propriedades, apenas 25% do esperado. A consequência é que, em algum momento, o consumidor sentirá no bolso o aumento do preço da carne e do leite.
As chuvas de fevereiro permitiram que parte do capim voltasse a crescer, mas não o suficiente. O gado se alimenta do broto, que não é tão nutritivo, e ainda impede a planta de se desenvolver. Outra boa fonte de alimentação para os bovinos — o milho — também revela dificuldade por causa da falta de precipitações em dezembro e em janeiro. A perda do grão pode chegar a 40% em toda a região. O preço do saco de 40kg da ração, com base no commodity, aumentou. Passou de R$ 38 para R$ 41. Os criadores acreditam que a silagem, feita com base no milho, mais uma alternativa para enfrentar a estiagem, será a próxima a aumentar de preço.
Ao caminhar pela propriedade, uma chácara na Colônia Agrícola Nova Betânia, em São Sebastião, Fábio Brás mostra o mato seco e abaixo do tamanho esperado. Segundo ele, o litro do leite, negociado pelo produtor por R$ 0,85, terá de subir a R$ 1 para que seja possível continuar com a criação. “Em breve, será difícil cobrir o preço do investimento na produção. Um dos problemas é que boa parte do nosso pasto já deu semente, o que significa que não crescerá muito mais do que isso”, relata.
Caseiro de outra chácara, na Colônia Agrícola Recanto da Conquista, às margens da BR-251, João Batista Davi do Nascimento, 47 anos, conta que a produção do leite caiu de 350l por dia para 240l. “O pasto está abaixo do esperado para o período neste ano. Mesmo plantando cana, teremos de comprar alimento a mais para o gado na seca e sairá ainda mais caro. Estamos evitando, mas uma possibilidade é nos livrar de parte dos bovinos”, admite João Batista.
Previsões
Na opinião do veterinário da Cooperativa Agropecuária de São Sebastião (Copas), Bruno Batista Rodrigues, ocorreu uma série de prejuízos que, futuramente, influenciarão os preços do leite e da carne. “Como muita gente perdeu parte da produção de milho, a quantidade produzida de silagem será menor. Quando chegar a seca, com uma demanda maior, pode ser que aumente ainda mais”, prevê. O vice-presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Carnes Frescas e Gêneros Alimentícios do DF (Sindigêneros), Francisco Carlos Carvalho, concorda. Para ele, só é difícil prever quando haverá o aumento e de quanto será.
As previsões do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) também são pessimistas. De acordo com o meteorologista Manoel Rangel, produtores de grãos e pecuaristas enfrentarão dois fatores climáticos complicados para os negócios até a chegada da seca: pouco volume e má distribuição das chuvas. Por enquanto, a previsão é de sol entre nuvens com pancadas, o que não é suficiente para nenhum dos setores. “A partir de março, a quantidade de chuvas começará a diminuir. Já está baixo e ficará ainda mais. A previsão não é boa. O sol entre nuvens com pancadas isoladas é cruel e gera desequilíbrio para a agricultura”, detalha.
Mas o veterinários da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do DF (Emater) Luiz Carlos Brito Ferreira acredita que o prejuízo dificilmente atingirá o consumidor. O motivo é que a produção de carnes e de laticínios da região é pequena. É preciso saber se o problema se refletirá em outras partes do país. “Essa queda atinge mais o produtor. A perda da pastagem não é irreversível. Mas, ainda assim, dependemos do clima. Existem problemas, mas não podemos prever o nível do impacto para o consumidor final”, explica.
O presidente do Sindicato dos Criadores de Bovinos, Bubalinos e Equídeos do DF (SCDF), Geraldo Borges, admite que as poucas chuvas do início do ano prejudicaram as pastagens. “A escassez que vem ocorrendo do ano passado para cá, no Centro-Oeste e no Sudeste, nunca foi vista antes. Nunca tivemos um janeiro totalmente escasso. Isso maltratou as pastagens”, lamenta. “Temos esperança de que chova em fevereiro, março, abril, maio e junho. O produtor brasileiro nunca desiste. É melhor não causarmos alarde”, conclui.