O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, afirmou ontem que a instabilidade fiscal teve um “custo tremendo” para a Caixa Econômica Federal. “Ela esteve em risco” afirmou, durante a solenidade de posse da nova presidente do banco, Miriam Belchior. O ministro destacou, porém, que medidas de correção já foram adotadas para reequilibrar as finanças da Caixa.
Levy já deixou claro que não pretende fazer nova capitalização de instituições financeiras públicas mediante a emissão de títulos do Tesouro Nacional. Ontem, ele lembrou que, embora seja agente das políticas públicas do governo, a Caixa é também um banco e, portanto, precisa ser administrado dentro de regras bem estabelecidas.
A cerimônia de posse da ex-ministra do Planejamento foi marcada pela polêmica em torno da abertura de capital da instituição financeira. Miriam Belchior não descartou a operação, apesar dos protestos que vem gerando entre funcionários e políticos aliados do governo. Ela pontuou, contudo, que a medida ainda não está sacramentada.
“A Caixa tem especificidades muito grandes que precisam ser consideradas. Nenhuma decisão será tomada nessa direção sem fazer no mínimo um estudo de viabilidade. Isso não existe até hoje”, afirmou Miriam.
O evento começou com mais de uma hora de atraso devido à grande quantidade de pessoas no local. Enquanto as autoridades falavam, representantes de movimentos sociais faziam coro contra o que consideram a privatização do banco. “Da Caixa Econômica, eu não abro mão” era uma das palavras de ordem de cerca de 30 manifestantes presentes no teatro Caixa Cultural. Frases como “Caixa 100% pública” e “Eu defendo a Caixa”, ilustravam os cartazes em punho.
O principal alvo das críticas foi o próprio Levy, que sinalizou ser a favor da medida. “Vamos fazer todas as ações necessárias para dar força fiscal e alcançar a estabilidade, que permite conter o processo de inflação e fazer com que a poupança de cada um continue valendo”, disse.
Já o ex-presidente da instituição, Jorge Hereda, que, recentemente, criticou de público a abertura de capital, foi ovacionado durante discurso em que procurou mostrar que sua gestão foi positiva. Na fala, ele não citou o ministro nenhuma vez.
“Há um problema da abertura de capital da Caixa. Ela é pública, e, se abre o capital, perde o perfil para atender a população”, afirmou a presidente da Confederação Nacional de Associações de Moradores, Bartiria Lima da Costa. Ela contou membros da entidade participavam de um evento em Brasília e foram convidados para a cerimônia de posse pela direção do banco.
Crescimento medíocre
O Banco Santander refez as projeções de crescimento do Brasil para os próximos quatro anos. Os números mostram que, ao longo dos dois mandatos de Dilma Rousseff, o país terá crescimento médio anual de 1,5%, o segundo pior do período republicano. Para 2015, a instituição espanhola prevê queda de 0,9% do PIB. A reação da economia, se vier, só em 2018, com incremento de 3,5%, o que é considerado um feito quase impossível.
Barrados pela burocracia
Completam-se hoje 19 dias que o Banco Central enviou ao Palácio do Planalto as indicações de dois novos diretores: Tony Volpon (Assuntos Internacionais) e Otávio Ribeiro Damaso (Regulação). Até agora, os nomes não seguiram para o Senado. Segundo a Casa Civil, a demora é normal, e decorre dos feriados de carnaval.
Disputa entre petistas
O senador Delcídio Amaral (PT-MS) acha que a Comissão de Assuntos Econômicos (CAE), que ele integra, terá uma pauta complexa pela frente, com as medidas de ajuste fiscal, a proposta de unificação de alíquotas do ICMS, “que responde por 70% da reforma tributária”, e o imbróglio do setor elétrico. A bancada petista vai decidir hoje quem presidirá a comissão: ele ou Gleisi Hoffmann (PR).
Decepção de Hereda
A despeito de todos os sorrisos demostrados ontem ao transmitir a presidência da Caixa Econômica Federal para Miriam Belchior, Jorge Hereda não escondeu de amigos o quanto estava decepcionado com a decisão da presidente Dilma Rousseff de substituí-lo.
Último a saber
Hereda contou que, em nenhum momento, foi consultado sobre a troca no comando da Caixa. Soube da sua saída pela imprensa. E sentiu-se traído, pois acreditava que estava fazendo um bom trabalho à frente da instituição federal.
Miriam, o que é IPO?
No mercado financeiro, é grande o ceticismo em relação à capacidade de Miriam Belchior de tocar o projeto de abertura de capital da Caixa Econômica Federal. Entre os analistas mais ferinos, especula-se se a ex-ministra do Planejamento sabe o que é IPO, oferta inicial de ações, na sigla em inglês.
Miriam Belchior toma posse como presidente da Caixa Econômica Federal
Ex-ministra do Planejamento, Miriam tem mestrado em administração pública e governamental e foi professora da Universidade de São Paulo
A ex-ministra do Planejamento, Orçamento e Gestão Miriam Belchior foi nomeada oficialmente nesta segunda-feira (23/2) presidente da Caixa Econômica Federal. O ato foi publicado na edição desta segunda-feira no Diário Oficial da União. Miriam Belchior vai substituir Jorge Hereda, que ocupou o cargo por quatro anos. A posse será às 17h, em Brasília, e participarão da solenidade o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Miguel Rossetto, e o governador do Distrito Federal, Rodrigo Rollemberg.
Em 2002, Miriam participou da equipe de transição do primeiro governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. De 2003 até junho de 2004, exerceu o cargo de assessora especial do presidente da República. No mês seguinte, tornou-se subchefe de Articulação e Monitoramento da Casa Civil. Em 2007, ela foi para a Secretaria Executiva do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) e, em abril 2010, tornou-se coordenadora-geral do PAC, antes de ser confirmada chefe da pasta do Planejamento.
Formada em engenharia de alimentos pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), Miriam Belchior tem mestrado em administração pública e governamental pela Escola de Administração de Empresas de São Paulo, da Fundação Getulio Vargas (FGV). Ela foi professora da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo.
Miriam Belchior foi casada com o ex-prefeito de Santo André Celso Daniel, assassinado em 2002.