Protesto frustrado Ao ofender a prefeita de Cidade Ocidental (GO) com adesivo no carro, militar reformado é processado por calúnia e difamação
O militar reformado Jeferson Lima, morador de Cidade Ocidental (GO), a 45 quilômetros de Brasília, nunca vai esquecer as festividades do fim de 2013. Depois de preparar a ceia de Natal, ele foi tomar banho e percebeu que não havia uma gota de água no chuveiro. Duas horas antes da meia-noite, faltou luz. Nessas condições — sujo e no escuro —, ele trocou presentes com familiares. Durante a festa de réveillon, o mesmo transtorno se repetiu. E, para piorar o quadro, seu carro estava com o amortecedor quebrado, efeito do desagradável encontro com um grande buraco numa via local. Com essa soma de infortúnios, Lima decidiu materializar sua revolta contra a prefeita da cidade, Giselle Araújo (PTB).
O militar encomendou um adesivo com os seguintes dizeres: “Ocidental é 100 / 100 água / 100 luz / 100 asfalto. Êita prefeita 100 vergonha”. Com o protesto afixado no vidro traseiro do seu veículo, ele circulava pelas cidades do Entorno do Distrito Federal. “As pessoas viam e me cumprimentavam com sorrisos e buzinadas”, lembra. Lima chegava a passear com o carro apenas para dar mais visibilidade às palavras de repúdio. Em 15 de maio do ano passado, contudo, o delegado Rafael Pareja bateu à porta da casa dele e, mesmo sem mandado de busca e apreensão, recolheu o carro. Só o liberou depois que Lima retirou o adesivo. “O veículo era uma placa difamatória ambulante com alto poder de penetração”, justifica Pareja, alegando ainda que a prefeita havia registrado ocorrência.
Giselle conta que viu o carro de Lima nas ruas e resolveu processar o militar por sentir-se ofendida. “Todo cidadão tem o direito de protestar. Mas, antes de ser prefeita, sou uma mãe de família, e nenhum protesto pode ofender a minha honra”, defende-se.
Lima diz ter acusado a prefeita de “sem-vergonha” porque ela empregou o próprio filho, Igor Araújo, na Secretaria de Governo. “Acho isso uma baixaria”, afirma ele. “Independentemente do grau de proximidade, cobro de todo o meu secretariado o bom desempenho das suas funções”, rebate a prefeita. Lima já foi alertado por sua advogada de que provavelmente vai perder a ação e terminará essa novela punido, prestando serviços à comunidade. Em seguida, como é de praxe nesse tipo de processo, a prefeita deve entrar com um pedido de indenização. “Estou arrependido. Não tenho dinheiro. Poderia ter escrito ‘prefeitura sem-vergonha’, e não ‘prefeita’. Teria me safado desse abacaxi”, acredita Lima.
Fonte: Revista VEJA.