Os erros de gestão de Dilma

Ao prometer que não medirá esforços para ajudar os estados que sofrem da maior crise hídrica que a Região Sudeste já viu desde 1930, o governo federal foca no uso racional da água por parte da população. Para especialistas, entretanto, a conscientização veio tarde e também deveria ocorrer por parte dos governantes. Doutora em ecologia, conservação e manejo da vida silvestre, a professora da Universidade Fumec Renata Felipe Silvino corrobora a afirmação de que problemas como esse passam pelo comportamento do cidadão, mas também pela gestão hídrica por parte dos governos. “Isso é uma novidade para nós, mas para os gestores públicos, com certeza não. Faltou saber lidar com a questão”, reforça.

Ela tem um exemplo assustador de como os sistemas naturais estão comprometidos. Para a tese de doutorado, Silvino pesquisou a região da Lagoa Santa, na Grande BH, onde todas as lagoas secaram num período de apenas dois anos. O estudo mostra como a maior delas, a Sumidouro, tinha água em 2012, começou a secar em 2013 e ficou totalmente coberta por vegetação em novembro do ano passado. Para ela, falta prevenção, com preservação em torno das nascentes. “A tendência de um mundo cada vez mais quente contrasta com as intervenções do homem sobre a natureza. Infelizmente, será preciso mudança de comportamento por parte das pessoas e dos gestores públicos, porque o quadro é de aquecimento global e alteração climática”, diz. 

Na avaliação dela, as próximas precipitações serão, no máximo, dentro da média da série histórica. “Não há estimativas de que nos próximos anos as chuvas estarão acima da média. Isso quer dizer que a crise da água vai se perpetuar por mais anos, e deveremos, sim, estarmos preparados para isso”, alerta.

Cotidiano da seca
O jogo de cintura que mais de 1 milhão de moradores de São Paulo teve que ter na semana passada para conviver com a falta de água já começa a ser reproduzido em outras regiões do país. Sem perspectivas de melhora a curto prazo, 15 cidades de Minas Gerais cancelaram o carnaval e 27 prefeituras decretaram situação de emergência. Moradores da Barra do Piraí, no Rio de Janeiro, têm feito o possível para não passar sede. Com a vazão do rio caindo, quem vive na região teve que pressionar a prefeitura por uma solução. O jeito foi enviar caminhões-pipas.

Em meio a análises sobre a situação, a aposta do governo federal para que o cenário se reverta vem do céu. Mas nem a maior chuva do ano, que caiu na noite de sexta-feira para ontem, em solo paulista foi capaz de amenizar as condições do sistema Cantareira. Pelo contrário, o reservatório, responsável pelo abastecimento de 6,5 milhões de pessoas na Grande São Paulo, caiu 0,1 ponto percentual e está em 5,2% de sua capacidade. Embora outros reservatórios tenham subido, o Cantareira sofre de um efeito esponja — o solo absorve a água, sem aumentar a água do reservatório —, que retarda sua recuperação.

Na ausência de políticas efetivas que possam resolver a crise hídrica imediatamente, os governos estaduais passaram a adotar ou a cogitar o racionamento. Além do uso controlado de água, a Região Metropolitana de Belo Horizonte, por exemplo, planeja aplicar multas por desperdício nos próximos 30 dias. O impacto na população não virá apenas no bolso. Onde o carnaval não for cortado, a programação será diferenciada. O chuveirão, tradicional em Sabará, foi cancelado. “No cenário atual de escassez de água e previsão de um possível racionamento, a previsão é colocar os recursos hídricos em primeira mão”, explicou a prefeitura.


Quem foi ao Parque do Ibirapuera, na capital paulista, ontem se deparou com bebedouros secos. De acordo com a Companhia de Saneamento Básico do estado (Sabesp), o corte ocorreu por causa do consumo elevado e da alta temperatura. Ações como essa serão cada vez mais comum, segundo o coordenador do Núcleo de Estudos Ambientais da Universidade de Brasília (UnB), Gustavo Souto Maior. O especialista ressalta que faltou planejamento e que o governo foi irresponsável por diminuir a tarifa e estimular ainda mais o consumo de energia. “Nosso consumo de energia é sustentado em hidrelétricas. Agora, a tarifa vai aumentar e ainda teremos o problema do racionamento. É preciso reduzir o consumo de luz e água e parar de perder água”, argumenta.

Fonte: Redação.
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Por Renata Belsantos

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